quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Quem foi Josué De Castro?

 


Médico, filósofo, sociólogo e geógrafo pernambucano, Josué Apolônio de Castro (1908-1974), dedicou sua vida a um dos maiores e persistentes problemas da humanidade. Seus livros “Geografia da fome” – (1946) e “Geopolítica da fome” – (1951) discutem a fome como uma questão política, Josué, aponta que onde não se consigam obter condições de vida similares para todos os homens ao nascer, se produzirão consequentemente grandes contrastes nos futuros níveis de saúde e capacidade intelectual destas populações.

Ter ou não ter o que comer diferencia mais do que a raça, do que a cor. A herança que caberia a cada um dos membros da sociedade não estava, assim, muito bem distribuída.

Em seus trabalhos, dividia a sociedade não em burguesia e proletariado, mas entre “os que não comem e não dormem porque têm fome e os que comem mas não dormem com medo dos que têm fome”, (CASTRO, 1980 Pag.22).

Josué de Castro foi pioneiro no Brasil com a primeira pesquisa sobre alimentação, nutrição e fome. Humanizou a Geografia e a sociedade inserindo o homem, suas questões e circunstâncias no mundo dos mapas e estatísticas. Elaborou o mapa da fome no Brasil e retratou a miséria e desigualdade sem perder a esperança e deixar de propor soluções, ressaltando que a humanidade dispõe de recursos naturais, técnicos e financeiros suficientes para resolver este problema.

Josué desenvolvia suas observações em várias escalas, preocupando-se tanto com o local e com o regional (como visto na obra “Geografia da Fome”) e o nacional e internacional, visto na obra “Geopolítica da Fome”. Refletia e discutia o problema das populações que habitavam as palafitas, sobre as águas, tornando o assunto tema de um de seus últimos livros. (“Homens e caranguejos”, de 1968)

O Nordeste foi sua preocupação constante, tanto na juventude, quando reuniu em livro ensaios sobre a região – “Documentário do Nordeste” (1937) – como na idade madura quando, exilado pela ditadura de 1964, escreveu em Paris “Sete Palmos da Terra e um Caixão”. (1967)

De acordo com o CENTRO JOSUÉ DE CASTRO, Josué passou a trabalhar, a partir de 1940, no Serviço de Alimentação e de Previdência Social (SAPS), e fundou a Sociedade Brasileira de Alimentação. Foi convidado oficial de vários países para estudar os problemas de alimentação e nutrição, passando a ter atuação destacada em políticas públicas: nos movimentos em prol do estabelecimento do salário mínimo (que passa a vigorar por decreto-lei de Getúlio Vargas em 1940); na fundação dos Arquivos Brasileiros de Nutrição, editados sob responsabilidade do serviço técnico da Alimentação Nacional e da Nutrition Foundation de New York em 1941; na fundação da Sociedade Brasileira de Alimentação em 1940, constituída de futuros dirigentes do Serviço de Alimentação da Previdência Social – SAPS, criado em agosto do mesmo ano por iniciativa do Ministério do Trabalho Indústria e Comércio.

Em 1951, Josué foi eleito presidente do Conselho da Food and Agricultural Organization (FAO), passando a viajar por vários países e visualizar os problemas da fome, sobretudo nos países subdesenvolvidos. Josué de Castro foi deputado federal por Pernambuco, pelo Partido Trabalhista Brasileiro, de 1954 a 1958 e de 1958 a 1962. Nesse último ano, foi designado embaixador do Brasil na Conferência Internacional de desenvolvimento, em Genebra, na Suíça.

Em 1964, o presidente João Goulart foi deposto por um golpe militar, e Josué teve seus direitos cassados, perdendo o cargo de Embaixador.

Exilado, transferiu-se para Paris, onde foi nomeado professor de Geografia da Universidade de Vincennes, onde desenvolveu pesquisas e viajou para diversos países da Europa, África e América Latina, que procuravam seu apoio.

No exílio, sentiu agudamente a falta do Brasil, a ponto de declarar que “não se morre apenas de enfarte ou de glomerulonefrite crônica, mas também de saudade”. Faleceu em Paris, em 24 de setembro de 1973, quando esperava o passaporte que o traria de volta ao Brasil.

Josué deixa um legado importantíssimo nas políticas publicas de alimentação e sua obra vive até hoje.

Nós, do Programa de Extensão “Diálogos de Saberes” buscamos perpetuar e colocar em prática o que Josué nos ensina em sua vasta bibliografia e pelas palavras d’ele

Constitui, pois, a luta contra a fome, concebida em termos objetivos, o único caminho para a sobrevivência de nossa civilização, ameaçada em sua substância vital por seus próprios excessos, pelos abusos do poder econômico, por sua orgulhosa cegueira – numa palavra, por seu egocentrismo político, sua superada visão ptolomaica do mundo. (CASTRO, 1966)

 

 

 

Referências:

CASTRO, Josué de 1980 Geografia da fome (o dilema brasileiro: pão ou aço). 10.ed. rev. Rio de Janeiro: Antares/Achiamé.

CASTRO, Josué de. Documentário sobre o Nordeste. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio, 1937.

Castro, Josué de 1951 Geopolítica da fome. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil.

__________. Sete palmos de terra e um caixão. 2ª ed. São Paulo, Brasiliense, 1967.

__________. Homens e caranguejos. São Paulo, Brasiliense, 1968.

CENTRO JOSUÉ DE CASTRO. Biografia. Disponível em: http://www.josuedecastro.org.br/jc/jc.html.  Acesso em 26/10/2020.

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Muito além do arroz: O retorno da fome e da insegurança alimentar no Brasil é uma tendência; minimizá-lo, uma perversidade. Disponível em: http://observatoriodesigualdades.fjp.mg.gov.br/?p=1265. Acesso em: 26/10/2020

 

 

Autoria de Renata dos Reis Sousa.

Aluna do Curso de Geografia da Universidade Federal de São João del-Rei

Bolsista do Programa de Extensão “Diálogos de saberes e práticas para a promoção da soberania e da segurança alimentar e nutricional como estratégia de desenvolvimento no Território das Vertentes em Minas Gerais

 

 

 


sexta-feira, 2 de outubro de 2020


 "A COMIDA COMO ATO POLÍTICO


Dos Sete Pecados Capitais, a GULA é aquele que mais me tenta. E não faço distinção entre doces e salgados. Devoro ambos. Saborosamente. 


Ao longo de meus anos, passei por várias fases alimentares, que inclui comida pouco saudável – feijoada, tropeiro, macaxeira, buchada, churrasco -, muito saudável – macrobiótica, vegetariana, vegana -, entre uma e outra - caldos, sopas, bobó de camarão, bacalhoada, moquecas. E feito em casa. Gosto de cozinhar.


Atualmente, em pleno pecado gastronômico, busco equilíbrio alimentar. Quero saber a procedência do alimento, dou preferência aos orgânicos, sem pesticidas e outros venenos, produzidos por pequenos agricultores, de hortas comunitárias, realizados de forma sustentável e respeitando o meio-ambiente. Ou seja, desejo alimento de qualidade, com seu valor nutricional, que traz saúde. Uma comida de verdade que gere renda e trabalho e promova hábitos alimentares saudáveis. 


Frente à essa situação, lancei a ideia aos meus vizinhos do prédio em que moro, de realizarmos compras coletivas de alimentos produzidos de forma comunitária e sustentável, frutas, verduras, ovos e quiçá galinha caipira. 


Estamos realizando uma pesquisa para listar os agricultores e também para expandir para a compra de grãos e de outros produtos que compõem o cardápio do brasileiro como o feijão e o arroz. Alguns vizinhos sugeriram de fazermos uma horta em um espaço vazio no condomínio, outros de plantarmos ervas medicinais. Meu desejo é que os demais prédios pertencentes ao condomínio possam aderir e a ideia se expandir. Tomara, pois que a comida pode ser considerada como um ato político.


E por falar em política e comida, surge o assunto da FOME. 


Irresponsavelmente, no primeiro mês de 2019 ao ocupar o Palácio do Planalto, o inominável presidente do Brasil, extinguiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - CONSAN. 


O órgão fazia parte do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e, contava com a participação da sociedade civil na formulação de políticas públicas de acesso à nutrição adequada (Diálogo de Saberes – grupo de Estudos da UFSJ).  

Ao negar a existência da fome no país, o desgoverno nada faz e, quando a pandemia do Corona vírus aporta no Brasil, encontra um momento de extrema fragilidade nas políticas públicas, em um contexto no qual os dirigentes do país não têm nenhuma vontade para lidar com a situação. Desconsidera-se que a alimentação adequada é um direito constitucional (Emenda Constitucional nº 64 que inclui a alimentação no artigo 6º da Constituição Federal), em que a fome está associada à pobreza e à desigualdade social, uma certa ministra sugere que o povo faminto deva colher manga nas ruas. 


E eu digo ao governo: vá catar coquinho! Basta!"


Marluce Cerqueira é professora, atriz e colaboradora do Programa Diálogos  de Saberes e do Projeto Enfrentando a Pandemia Covid19 através da Segurança Alimentar e Nutricional.

DONOS DA TERRA BRASILIS: POVOS DA TERRA

O Diálogos de Saberes apresentará uma série de reflexões sobre a condição dos povos originários da Terra Brasilis a partir de 18/04 até dia ...