Médico,
filósofo, sociólogo e geógrafo pernambucano, Josué Apolônio de Castro (1908-1974), dedicou sua vida a
um dos maiores e persistentes problemas da humanidade. Seus livros “Geografia
da fome” – (1946) e “Geopolítica da fome” – (1951) discutem a fome como uma
questão política, Josué, aponta que onde não se consigam obter condições de
vida similares para todos os homens ao nascer, se produzirão consequentemente
grandes contrastes nos futuros níveis de saúde e capacidade intelectual destas
populações.
Ter
ou não ter o que comer diferencia mais do que a raça, do que a cor. A herança
que caberia a cada um dos membros da sociedade não estava, assim, muito bem
distribuída.
Em
seus trabalhos, dividia a sociedade não em burguesia e proletariado, mas entre “os
que não comem e não dormem porque têm fome e os que comem mas não dormem com
medo dos que têm fome”, (CASTRO, 1980 Pag.22).
Josué
de Castro foi pioneiro no Brasil com a primeira pesquisa sobre alimentação,
nutrição e fome. Humanizou a Geografia e a sociedade inserindo o homem, suas
questões e circunstâncias no mundo dos mapas e estatísticas. Elaborou o mapa da
fome no Brasil e retratou a miséria e desigualdade sem perder a esperança e
deixar de propor soluções, ressaltando que a humanidade dispõe de recursos
naturais, técnicos e financeiros suficientes para resolver este problema.
Josué
desenvolvia suas observações em várias escalas, preocupando-se tanto com o
local e com o regional (como visto na obra “Geografia da Fome”) e o nacional e
internacional, visto na obra “Geopolítica da Fome”. Refletia e discutia o
problema das populações que habitavam as palafitas, sobre as águas, tornando o
assunto tema de um de seus últimos livros. (“Homens e caranguejos”, de 1968)
O
Nordeste foi sua preocupação constante, tanto na juventude, quando reuniu em
livro ensaios sobre a região – “Documentário do Nordeste” (1937) – como na
idade madura quando, exilado pela ditadura de 1964, escreveu em Paris “Sete
Palmos da Terra e um Caixão”. (1967)
De acordo com o CENTRO JOSUÉ DE
CASTRO, Josué passou a trabalhar, a partir de 1940, no Serviço de Alimentação e
de Previdência Social (SAPS), e fundou a Sociedade Brasileira de Alimentação.
Foi convidado oficial de vários países para estudar os problemas de alimentação
e nutrição, passando a ter atuação destacada em políticas públicas: nos
movimentos em prol do estabelecimento do salário mínimo (que passa a vigorar
por decreto-lei de Getúlio Vargas em 1940); na fundação dos Arquivos
Brasileiros de Nutrição, editados sob responsabilidade do serviço técnico da
Alimentação Nacional e da Nutrition Foundation de New York em 1941; na fundação
da Sociedade Brasileira de Alimentação em 1940, constituída de futuros
dirigentes do Serviço de Alimentação da Previdência Social – SAPS, criado em
agosto do mesmo ano por iniciativa do Ministério do Trabalho Indústria e
Comércio.
Em 1951, Josué foi eleito presidente
do Conselho da Food and Agricultural Organization (FAO), passando a viajar por
vários países e visualizar os problemas da fome, sobretudo nos países
subdesenvolvidos. Josué de Castro foi deputado federal por Pernambuco,
pelo Partido Trabalhista Brasileiro, de 1954 a 1958 e de 1958 a 1962. Nesse
último ano, foi designado embaixador do Brasil na Conferência Internacional de desenvolvimento, em Genebra,
na Suíça.
Em 1964, o presidente João Goulart foi deposto por um
golpe militar, e Josué teve seus direitos cassados, perdendo o cargo de Embaixador.
Exilado, transferiu-se para Paris, onde foi nomeado
professor de Geografia da Universidade de Vincennes, onde desenvolveu pesquisas
e viajou para diversos países da Europa, África e América Latina, que
procuravam seu apoio.
No exílio, sentiu
agudamente a falta do Brasil, a ponto de declarar que “não se morre apenas de
enfarte ou de glomerulonefrite crônica, mas também de saudade”. Faleceu em
Paris, em 24 de setembro de 1973, quando esperava o passaporte que o traria de
volta ao Brasil.
Josué deixa um legado
importantíssimo nas políticas publicas de alimentação e sua obra vive até hoje.
Nós, do Programa de
Extensão “Diálogos de Saberes” buscamos perpetuar e colocar em prática o que
Josué nos ensina em sua vasta bibliografia e pelas palavras d’ele
Constitui,
pois, a luta contra a fome, concebida em termos objetivos, o único caminho para
a sobrevivência de nossa civilização, ameaçada em sua substância vital por seus
próprios excessos, pelos abusos do poder econômico, por sua orgulhosa cegueira
– numa palavra, por seu egocentrismo político, sua superada visão ptolomaica do
mundo. (CASTRO, 1966)
Referências:
CASTRO,
Josué de 1980 Geografia da fome (o dilema brasileiro: pão ou
aço). 10.ed. rev. Rio de Janeiro: Antares/Achiamé.
CASTRO, Josué de. Documentário
sobre o Nordeste. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio, 1937.
Castro, Josué de 1951 Geopolítica
da fome. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil.
__________. Sete palmos de terra e um caixão.
2ª ed. São Paulo, Brasiliense, 1967.
__________. Homens e caranguejos. São Paulo,
Brasiliense, 1968.
CENTRO JOSUÉ DE CASTRO. Biografia. Disponível em: http://www.josuedecastro.org.br/jc/jc.html. Acesso em 26/10/2020.
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Muito além do arroz: O retorno da fome e da
insegurança alimentar no Brasil é uma tendência; minimizá-lo, uma perversidade.
Disponível em: http://observatoriodesigualdades.fjp.mg.gov.br/?p=1265. Acesso em: 26/10/2020
Autoria
de Renata dos Reis Sousa.
Aluna
do Curso de Geografia da Universidade Federal de São João del-Rei
Bolsista
do Programa de Extensão “Diálogos de saberes e práticas para a promoção da
soberania e da segurança alimentar e nutricional como estratégia de
desenvolvimento no Território das Vertentes em Minas Gerais