sexta-feira, 2 de outubro de 2020


 "A COMIDA COMO ATO POLÍTICO


Dos Sete Pecados Capitais, a GULA é aquele que mais me tenta. E não faço distinção entre doces e salgados. Devoro ambos. Saborosamente. 


Ao longo de meus anos, passei por várias fases alimentares, que inclui comida pouco saudável – feijoada, tropeiro, macaxeira, buchada, churrasco -, muito saudável – macrobiótica, vegetariana, vegana -, entre uma e outra - caldos, sopas, bobó de camarão, bacalhoada, moquecas. E feito em casa. Gosto de cozinhar.


Atualmente, em pleno pecado gastronômico, busco equilíbrio alimentar. Quero saber a procedência do alimento, dou preferência aos orgânicos, sem pesticidas e outros venenos, produzidos por pequenos agricultores, de hortas comunitárias, realizados de forma sustentável e respeitando o meio-ambiente. Ou seja, desejo alimento de qualidade, com seu valor nutricional, que traz saúde. Uma comida de verdade que gere renda e trabalho e promova hábitos alimentares saudáveis. 


Frente à essa situação, lancei a ideia aos meus vizinhos do prédio em que moro, de realizarmos compras coletivas de alimentos produzidos de forma comunitária e sustentável, frutas, verduras, ovos e quiçá galinha caipira. 


Estamos realizando uma pesquisa para listar os agricultores e também para expandir para a compra de grãos e de outros produtos que compõem o cardápio do brasileiro como o feijão e o arroz. Alguns vizinhos sugeriram de fazermos uma horta em um espaço vazio no condomínio, outros de plantarmos ervas medicinais. Meu desejo é que os demais prédios pertencentes ao condomínio possam aderir e a ideia se expandir. Tomara, pois que a comida pode ser considerada como um ato político.


E por falar em política e comida, surge o assunto da FOME. 


Irresponsavelmente, no primeiro mês de 2019 ao ocupar o Palácio do Planalto, o inominável presidente do Brasil, extinguiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - CONSAN. 


O órgão fazia parte do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e, contava com a participação da sociedade civil na formulação de políticas públicas de acesso à nutrição adequada (Diálogo de Saberes – grupo de Estudos da UFSJ).  

Ao negar a existência da fome no país, o desgoverno nada faz e, quando a pandemia do Corona vírus aporta no Brasil, encontra um momento de extrema fragilidade nas políticas públicas, em um contexto no qual os dirigentes do país não têm nenhuma vontade para lidar com a situação. Desconsidera-se que a alimentação adequada é um direito constitucional (Emenda Constitucional nº 64 que inclui a alimentação no artigo 6º da Constituição Federal), em que a fome está associada à pobreza e à desigualdade social, uma certa ministra sugere que o povo faminto deva colher manga nas ruas. 


E eu digo ao governo: vá catar coquinho! Basta!"


Marluce Cerqueira é professora, atriz e colaboradora do Programa Diálogos  de Saberes e do Projeto Enfrentando a Pandemia Covid19 através da Segurança Alimentar e Nutricional.

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