segunda-feira, 3 de maio de 2021

A IMPORTÂNCIA DA QUESTÃO DE GÊNERO PARA A CRIAÇÃO DE POLÍTICAS DE SAN








A fome se configura por meio de processos históricos de violência e estratificação, que impulsionaram e reafirmaram, através dos anos, a negligência perante as desigualdades sociais de raça/etnia, classe social e gênero. Esse são fatores indissociáveis da análise para a criação de políticas de SAN.  
No Semiárido de Minas Gerais, encontra-se a Aldeia Cinta Vermelha Jundiba, uma junção dos grupos indígenas Pankaru e Pataxó – é o primeiro caso brasileiro em que grupos étnicos distintos se unem para a compra de terras por meio de um empréstimo de crédito fundiário. Aqui, se apresentam mulheres de ambas as etnias procurando reconstituir o modo de vida ancestral, em um novo território, através da permacultura e da agroecologia. Essas mulheres além de coletoras, semeadoras, tingidoras e cerzidoras, transitam nos espaços urbanos para a venda de seus produtos artesanais. Esta é a principal fonte de renda para o pagamento do crédito fundiário da terra onde vivem. O trabalho feminino é vital para o funcionamento e manutenção da aldeia. Além disso, esse trabalho cria laços e redes de informação. A divisão do trabalho por gênero, com a centralidade da figura feminina na educação, cria poderosa rede de sociabilidades. Essa inserção nos espaços políticos - majoritariamente masculinos - possibilita a realização de projetos reivindicando direitos à saúde, à educação de qualidade e alimentação adequada, para que estes possam conquistar o seu Bem Viver¹. 
O acesso à água potável e recursos para a produção de alimentos sem agrotóxicos e adubos químicos com a implementação de técnicas da agroecologia e da permacultura, configuram aspectos centrais na luta das mulheres que compõem a Aldeia Cinta Vermelha Jundiba. Defender um modo de vida mais sustentável e cooperativista, que conecta os direitos do homem com os direitos da natureza de coexistirem, e que evidencie a importância do papel feminino dentro deste processo, é fundamental não só para acabar com a fome, mas também para minimizar as disparidades sociais que a antecedem.
¹ações que considerem as estratégias de convivência com a natureza, através da conjugação das condições ecológicas de um território com o manejo cultural do espaço (Rita Simone LIBERATO, 2019; Enrique LEFF, 2016; Alberto ACOSTA, 2015; David CHOQUEHUANCA, 2010; Marcos ARRUDA, 2003).
Referências Bibliográficas
LIBERATO, Rita Simone; MOUTINHO, Laura; NORONHA, Isabel; BAGNOL, Brigitte. “Soberania Alimentar no Machimbombo e na aldeia: gênero na perspectiva Sul-Sul”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 27, n. 3, e66961, 2019.
FOTOS: https://www.ifnmg.edu.br/noticias-ara/noticias-2018/19025-neabi-do-campus-aracuai-visita-aldeia-cinta-vermelha-em-ciclo-de-formacao


 

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